Como desenvolver a segurança psicológica e o que tem a ver com prontidão operacional?

Em ambientes psicologicamente seguros, o time vê o trabalho como aprendizado ao invés de simplesmente execução de tarefas. Criar um espaço de troca de conhecimento contínuo permite cometer erros e aprender com eles, e qualquer pessoa pode cometer erros e falar sobre eles. Em times psicologicamente seguros, a fala é mais valorizada que o silêncio.

Além disso, a curiosidade e a humildade de compreender que não se sabe de tudo são fundamentais.

O aprendizado acontece quando se estabelece um ambiente propício a todo tipo de perguntas, podendo levar a novas alternativas para solucionar os problemas do cotidiano.

Para entender mais sobre o assunto, nossa equipe participou do 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, evento único na América Latina, dedicado completamente a esse assunto tao importante em nossas rotinas.

Segundo nossa diretora de operações, a psicóloga Débora Comello, que esteve no evento, definimos segurança psicológica como uma condição que torna o ambiente seguro e saudável para que as pessoas possam se expressar e ser quem são; é uma cultura, uma percepção de que aquele ambiente é seguro o suficiente para que eu possa manifestar minhas opiniões e crenças, sem medo de retaliação ou punição. A segurança psicológica é composta por 7 elementos. São eles:

  • Relação com erros: Erros cometidos são usados a favor da equipe.
  • Lidar com problemas: O time é apto a levantar problemas e questões difíceis.
  • Inclusão e diversidade:As pessoas neste time celebram diferentes perspectivas.
  • Assumir riscos: É seguro assumir riscos neste time.
  • Pedir ajuda: É fácil pedir ajuda para integrantes do time.
  • Apoio mútuo: Ninguém neste time agiria com intenção de minimizar esforços individuais.
  • Apreciação: Dentro do time as habilidades e talentos são valorizados e utilizados.

 

A partir de estudos sobre trabalho em altura na construção civil, entende-se que “o estado emocional estável dos trabalhadores é essencial para garantir a eficiência”. O estado mental dos trabalhadores desempenha um papel importante na ocorrência de erros humanos e medidas de segurança, sendo que é diretamente proporcional ao comportamento e segurança.

Outro estudo sobre estudantes da aviação e aeronáutica destaca “o papel que o sentimento de bem-estar, da relação genuína com o outro e da expressão aberta de sentimentos e dúvidas sem receio de exposição ou crítica, parece ter como preditor do desempenho de segurança. […] A livre expressão de ideias acerca da segurança parece, adicionalmente, fomentar a percepção de segurança psicológica, reforçando assim o papel determinante da comunicação como mecanismo preventivo face a práticas inseguras.”

É com base nessas referências que se torna possivel recontextualizar a segurança psicológica para a rotina industrial. Afinal, o segredo da alta performance não está só em contratar pessoas capacitadas, mas sim em como elas trabalham em conjunto. Em 2022, o burnout, ou o esgotamento, se tornou doença ocupacional pela OMS. Com isso, é importante pensar como diferentes esferas da vida pessoal e profissional afetam a segurança psicológica de uma equipe. Em entrevista para a revista Exame, o psiquiatra Roberto Aylmer fala sobre maturidade moral nas empresas, que ocorre em três níveis. “No primeiro, o clima é de cada um por si e é necessária uma gestão de comando e controle. Depois, a cultura evolui para aceitar normas e agir com confiança mútua. No nível final, todos agem eticamente sem precisar de controle (…). Ao descer para o primeiro nível, aumentam os riscos de acidentes, fraudes e doenças.”

Para promover a segurança psicológica no ambiente de trabalho é fundamental adotar estratégias e práticas específicas, principalmente iniciativas da gestão para inspirar seus times:

  • Liderança exemplar: a liderança desempenha papel primordial na criação de uma cultura que valorize a segurança psicológica.
  • Comunicação eficaz: proporcionando canais abertos para que equipes expressem suas opiniões e preocupações, individualmente ou em grupo.
  • Reflexão: feedback e participação ativa são medidas importantes para promover a segurança psicológica.

 

A boa notícia é que é possível medir e interpretar a segurança psicológica de uma equipe, com ferramentas com o Prontos, por exemplo. Analisando dados cruzados entre segurança psicológica e níveis de responsabilidade, compreende-se 4 níveis: Conforto, Aprendizadem, Apatia e Ansiedade.

  • Aprendizagem: Com alta segurança psicologica e alto nível de responsabilidade, vê-se um ambiente de aprendizagem. As pessoas sentem o desafio das tarefas e sentem que existe espaço para discussão e inovação. Centraliza-se o esforço na cooperação entre elementos do grupo com o objetivo de evoluir.
  • Conforto: É importante se atentar com o conforto, ou seja, alta segurança psicológica, mas baixa responsabilidade. As pessoas gostam do local de trabalho e colegas, mas a equipe não se sente particularmente desafiada, nem predisposta a aprender e atingir os objetivos. As pessoas são subestimadas e não há expectativa em nível aceitável de desafio. O ambiente é positivo, mas pode melhorar.
  • Ansiedade: Com baixa segurança psicológica, porém alto nível de responsabilidade, vê-se uma realidade ansiosa. Existem receios para expor ideias, experimentar outras perspectivas ou até pedir ajuda. Momentos críticos elevam o nível de stress e, se a confiança não tiver sido construída ainda, criam um ambiente hostil com baixa segurança psicológica.
  • Apatia: Esse nível vem com baixa segurança psicológica e baixa responsabilidade, em que se vê uma equipe com maior foco em favorecer quem detém posições de poder. Logo, existe o mínimo de troca de ideias e consequentemente a aprendizagem também é mínima.

 

Com a análise desses parâmetros em ferramentas como o Prontos, há maior “abertura de diálogo entre lideranças e liderados, bem como (…) a percepção do mesmo como um processo de cuidado e respeito a cada integrante da equipe”, diz Débora. Por isso, vê-se o Prontos como importante aliado “no acompanhamento do time e criação de uma cultura do cuidado, respeito e liberdade de manifestação dos próprios limites e percepções.”

  • Tenha prontidão para aprender: É preciso perceber o trabalho por uma perspectiva de aprendizado ao invés de simplesmente executar uma tarefa. Quando se tem segurança para aprender, há espaço para absorver novos conhecimentos para ações e decisões futuras.
  • Tire o melhor dos erros: Entenda que qualquer pessoa pode cometer erros, e que aprender com eles é fundamental. O importante é falar sobre os erros. Compartilhar situações desafiadoras gera novas perspectivas e permite a abertura para o desenvolvimento de novas habilidades.
  • Valorize a boa comunicação: Fomente o diálogo e respeito às diferentes formas de pensar e agir. Assim, as pessoas se sentirão mais livres para ser como são e expressar suas considerações sem medo de preconceitos.

 

Criar segurança psicológica significa construir ambientes propícios ao aprendizado e ao autodesenvolvimento, validação, apoio e encorajamento. Por isso, é de suma importância trabalhar não apenas como ser um bom líder, mas também a conscientização e estratégias para se desenvolver como membro proativo da equipe, conclui Débora. “Nossas ações e interações podem afetar o time e o ambiente como um todo, [e é preciso ter atenção quanto a] essa responsabilidade e segurança nas nossas condutas.”

Referências

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